quinta-feira, 17 de junho de 2010

Que cena digna.

Estava a ler num espaço público, com cerca de cinquenta pessoas que viam futebol (viam, não ouviam, porque se vissem e ouvissem, eu não lia).
A certa altura vejo um homem numa discussão muito desconfortável contra uns vinte. Ele tinha o típico aspecto de homem de taberna, mas um tanto cuidado. Eu não sei se foi devido à sua fraca argumentação, se por estar em terreno estranho ou se foi por desvantagem numérica, mas acabou sem razão. Percebi isso não porque estivesse atento à futebolada deles, mas porque o homem antes de se afastar vira-se para um dos vinte num tom afectado e diz: "Opá... Tu sabes o quê? Olha tu... Tu não dizes o que sabes, nem sabes o que dizes!" Isto enquanto esfregava as mãos como quem diz "Socorro, tou entalado". Mas nada por aí além, a seguir afastou-se e enquanto isso, um outro dos vinte, apenas juntou o polegar ao nariz, enquanto abanava os outros quatro dedos no ar, como quem diz "Vai-te embora vai oh Tozé!" Claro que achei graça.
Depois, pensando que tinha tido a minha dosezinha de comédia urbana, chegam-se à mesa do lado um homem e uma mulher. Quase de certeza que eram mãe e filho, ele uns quarenta e cinco, ela mais uns vinte ou trinta. Tinham um aspecto descuidado, não por descuido ou falta de dinheiro, mas mesmo porque eram assim. À primeira vista, fiquei logo "Puxa que aspectozinho". Mas logo de seguida toda a gente naquele sítio gritou - "GOLOOOO!" e o dito filho começa "SCHHHH!". Mas um "SCHHHH" a plenos pulmões. Eu olho para ele e só penso "Por favor, que não sejas um maluquinho ou bêbedo ou obsessivo compulsivo de qualquer género que faz Schh;" e não era. A verdade é que ele queria por a música do seu telemóvel para todos ouvirem. Claro que assim o fez e começa uma bela "Ohhh Ohhh Oh Oh Oh, a vida faz-me bem!" Acho que é dos Anjos. Nada contra eles de todo, mas foi cómico, porque o telemóvel devia ser dos primeiros que davam para pôr músicas com voz e ele só tinha uns quinze segundos da música e quando acabavam, ele punha a repetir de imediato... QUINZE OU VINTE VEZES. Decorei aqueles quinze segundos da música, à terceira ronda. E claro que demorei o tempo das quinze repetições para ler uma página do livro e é claro que estive para sair dali a correr. Percebi que tinham problemas; o "filho" arrotava incessante e audivelmente (ao quinto virei-me e julguei-o com os olhos, do género "Já estás a ser porcalhão! Isto não é a China!") e ele ignorou-me porque estava a falar ao telemóvel, em alta-voz, obviamente. Logo depois chega um amigo do "filho e da mãe" e eu levanto-me para me ir embora, três era demais. Quando estou levantado vejo no chão junto à "mãe" um maço de notas, umas quatro ou cinco de vinte euros mais outras de cinco pelo meio. "Esta gente!" Passo por ela e digo-lhe num ar de "Acorda pá vida": "Esse dinheiro aí no chão é seu?" Meia dormente, ela apanhou e o "filho" começou a reclamar com ela por ela ter deixado cair as notas. Rapidamente me afastei não caísse a maluquice para cima de mim e só olhei para trás, vá admirado, porque eles começaram "Obrigado rapaz, obrigado! Obrigado!" e eu sorri; com a cabeça ainda nos Anjos.

1 comentário:

  1. LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL QUE ESPETACULO. ha com cada uma, so vendo para crer mesmo . ahah

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