segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Inspiração


Os dias de sol, de luz natural projetada de dentro. Os dias distantes, as longínquas memórias de um tempo menino, ingénuo e imaculado. Um tempo em que a lição era parca, onde o mundo se fechava sobre si mesmo e ignorava a profundidade. Falta-me a inspiração, porque me falta o ar. O ataque do vácuo traz lágrimas de dor, perda, mostrando um vazio de silêncio, apenas rompido por poucos, que artisticamente nos enchem de algo tão superior. Algo tão superior e eterno que nos arrebata do humano e nos põe a flutuar, dando-nos golfadas de ar. Inspirando-nos de novo com o ar roubado. Depois queremos continuar, queremos respirar fundo ao som do imperial majestoso e misturamos lágrimas no prazer de ouvir o complexo. Porque o complexo move-nos e enche-nos. E continuamos, chorando partituras de dor e sentimento; de arte. A arte de sentir, a arte de ser inspirado. Grato pela arte inspirada, cheia de ar, que nos devolve esse roubado pelo pobre e triste algo, o pobre, triste e fraco desinspirado que nos inspira e nós deixamos. Somos arte e a arte deixa-se ser levada, tocada, mexida, revolvida, porque aguenta tudo. Inspira-se nela e noutra arte e refortalece-se daqueles que sem saberem amar, não são artistas mas que precisam do ar dela. É um ciclo diferente, mas real. Felizes somos porque temos arte intocável e eterna. A que alimenta o artista desinspirado, cujo ar de inspiração foi roubado pelo pobre, triste e fraco sol esmorecente, camuflado e tímido da sua luz natural.

Sem comentários:

Enviar um comentário