sexta-feira, 15 de outubro de 2010

"O Superorgânico"

Esta é uma ideia do antropólogo Alfred Kroeber (1876-1960) onde tenta mostrar, dar-nos a compreender o que é realmente a cultura e de como é ela que nos distancia de todos os outros animais. O "Superorgânico" foi um artigo publicado em 1917, num tempo em que gerou muita discussão e crítica. Passo um resumo:

Superorgânico
por Phil Bartle
traduzido por Inês Rato
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A distância mais curta não é sempre uma linha recta
A ideia de "o superorgânico" é associado a Alfred Kroeber, um antropólogo americano que escreveu na primeira metade do século XX.
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O superorgânico é outro modo de descrever - e compreender - a cultura ou o sistema socio-cultural.
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Se começarmos com o inorgânico, é o universo físico, todos os átomos dos elementos sem vida.
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Podemos chamar isto o mais baixo nível de complexidade.
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O segundo nível de complexidade é composto das coisas vivas.
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Todas as coisas vivas, plantas e animais, são compostos de elementos inorgânicos, principalmente de hidrogénio, oxigénio e carbono, mais alguns elementos raros.
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Aqui usamos uma frase interessante, "O todo é maior que a soma das partes."
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O conjunto de elementos inorgânicos que designamos de, por exemplo, uma árvore, ou um cão, está viva.
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Se analisar todas essas partes, por si mesmas, ou mesmo como um conjunto, não estão vivas.
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O posicionamento torna-as vivas.
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Se separar o cão ou a árvore nos seus elementos separados, eles morrem.
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Sabendo a dinâmica de como os átomos de carbono funcionam, ou que combinar hidrogénio e oxigénio pode resultar na combustão rápida ou mesmo numa explosão, não explica como a árvore funciona, com as suas folhas a converter a luz solar em energia e a transformar água e dióxido de carbono em oxigénio e carbono, canais para transferir a seiva das folhas para as raízes, e por aí fora.
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Igualmente, o cão, se visto como um sistema biológico, opera a nível mais elevado de complexidade que os elementos inorgânicos que o compõem.
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Uma entidade viva transcende as suas partes inorgânicas.
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Observando a relação entre as coisas vivas e as suas componentes inorgânicas desta forma ajuda-nos a compreender a relação entre a cultura e as pessoas.
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A cultura e a sociedade compõem o terceiro nível.
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Os seres humanos são animais, e dessa forma são sistemas orgânicos.
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Eles desenvolveram comunicações entre eles próprios a uma nível complexo, muito mais sofisticado do que outros animais.
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Esta complexidade associa os humanos em comunidades e sociedades.
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Estas associações são simbólicas, não genéticas como nos sistemas biológicos.
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O nível socio-económico, cultura ou sociedade, é deste modo transportado por humanos e transcende os humanos.
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Uma cultura tem uma "vida própria" que é simbólica em vez de genética. É deste modo uma coisa "viva".
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Opera a um nível mais elevado de complexidade que o orgânico. É superorgânico.
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Existe, deste modo, um paralelismo nas relações entre o inorgânico e o orgânico, tal como entre o orgânico e superorgânico.
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O conceito desenvolvido por Durkheim, um "facto social", expressa-se neste entendimento.
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Os humanos têm pensamentos e comportamentos.
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Esses são transportados pelos indivíduos.
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Eles comportam-se, no entanto, em consonância uns com os outros, como um sistema externo
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Não pense num cão como um átomo de carbono ou uma molécula de hidrocarboneto.
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Da mesma forma, não pense numa comunidade, numa instituição, numa sociedade como um ser humano.
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Não antropomorfize a cultura.
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Pode uma vida própria, mas a sua vida mais parece uma amiba do que um ser humano.

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